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Resenha | Melancia, de Marian Keyes

Resenha | Melancia, de Marian Keyes

A vida real depois de um pé na bunda.


Melancia é um dos livros obrigatório para as adolescentes dos anos 2000, e por mais que eu tenha negligenciado ele por muitos anos, quando parou em minhas mãos se mostrou extremamente necessário.

Este é um livro de ficção necessária. É uma história inventada sobre pessoas que talvez não existam, mas que traz questões interessantes sobre as quais precisamos refletir. A questão em Melancia é: como seguir a vida depois do temido fim de relacionamento?

Neste livro acompanhamos Claire. Uma mulher de 29 anos que acaba de dar a luz à sua primeira filha, quando se marido anuncia que irá dei xá-la para viver com outra mulher. Ela se vê sozinha, com uma filha recém nascida e um casamento recém acabado. E como muitos de nós quando vemos nosso relacionamento desmoronar, Claire não sabe o que fazer.

Então deixa seu apartamento em Londres para trás e parte para Dublin, na esperança de encontrar segurança nos braços de sua família.

O mais interessante sobre este livro, é a forma como ele traça uma perfeita linha do tempo das etapas pós término, fazendo com que o leitor se identifique com tudo que Claire está passando.

Passando primeiro pelo processo de tristeza, onde Claire relembra como se conheceram, como se apaixonaram e como tudo começou. Seguindo pelos momentos felizes do relacionamento que ela guarda na memória, se sentindo culpada pelo que aconteceu. E ao contrário de muitos romances onde tu se resolve com uma ida ao shopping e um novo corte de cabelo, em Melancia podemos acompanhar uma representação fiel da realidade: uma mulher cansada, deprimida, que não sabe para onde correr quando os problemas aparecem.

A apresentação das situações por Marian Keyes nos faz crer que tudo aquilo pelo que a protagonista passa é plausível, pois todos já fomos uma Claire. Todos já tivemos um relacionamento que deu errado, nos abalando completamente.

E não existem partes no livro onde você não consiga se identificar, ou se colocar no lugar da protagonista. Conseguimos sentir na pele junto com Claire quando ela descobre pontos do seu relacionamento que estavam abalados e ela não percebia, e entendemos sua insegurança em tentar conhecer pessoas novas.
Os méritos deste efeito são todos da autora, a escrita simples e subjetiva nos permite acompanhar toda a história contada, enquanto refletimos sobre qual a semelhança desta com nossa própria história.


“Todos os sentimentos são relativos, decidira eu. Estava errada em me sentir gorda. Não estava gorda demais. Não havia nada de errado comigo. O resto do mundo é que era pequeno demais. Eu não precisava mudar. O que precisava mudar era o mundo ao meu redor. Simplesmente tornar tudo em torno de 15% maior do que era agora. Roupas, móveis, pessoas, prédios, países e, de repente, eu estaria novamente do tamanho certo! Digamos, 20%. Assim, poderia sentir-me verdadeiramente frágil.” (p.62)

Em tempos de feminismo e empoderamento feminino, o livro, apesar de ser de 1995 (admito que mais antigo do que imaginei que fosse) traz questões importantes à serem refletidas. Dentre elas a necessidade feminina de manter um relacionamento sozinha, colocando todo o empenho para que a relação dê certo, e a forma como nos prendemos em relacionamentos fracassados para não desperdiçar o tempo que já investimos nele.


Uma das situações que trouxe esta reflexão é a parte onde James (ex-marido de Claire) voa para Dublin para conversar com Claire e despeja nela toda a culpa pelo relacionamento ter dado fracassado. E depois de culpa-la pelo fim de seu relacionamento, James diz que consideraria a possibilidade de voltar com Claire se ela mudasse todo seu jeito de ser. Claire então começa a considerar voltar com James para que os anos de casada não sejam desperdiçados e sua filha não cresça sem pai.

O mundo real está cheio de Claires.

“Relacionamentos frustrados podem ser descritos como muita maquiagem desperdiçada.” (p. 352)

Nas 490 páginas de Melancia, Marian Keyes nos apresenta uma história real em uma vida fictícia. Assim como a fruta que o nomeia, é um livro refrescante e leve para ser devorado, sem grandes dores de cabeça, mas com boas e necessárias reflexões. Apesar de não ser tão curto, o livro é de uma leitura tranquila e fácil, com uma linguagem divertida que nos prende do início ao fim.

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