A Ubisoft, conhecida por seus altos e baixos, deixou os fãs de Assassin’s Creed Shadows com a pulga atrás da orelha quando revelou o jogo. Depois de lançamentos polêmicos e escolhas narrativas que dividiram opiniões, muitos temeram que o título fosse um desvio drástico do que a franquia representa. A inclusão de Yasuke, um samurai negro, e Naoe, uma shinobi, como protagonistas em pleno Japão feudal, só aumentou a desconfiança. Seria esse o momento em que a série perderia sua essência? Mas agora, com o jogo lançado em 20 de março de 2025, após ajustes e um adiamento, a realidade é outra: Shadows é bem mais familiar do que os pessimistas imaginavam, encaixando-se no padrão dos títulos recentes da franquia.
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O Pânico Que Não Se Justificou?
Antes de chegar às nossas mãos, Shadows foi alvo de especulações intensas. No X e em fóruns, a escolha de Yasuke – uma figura histórica real – gerou debates intenasos sobre como ele seria retratado. Já Naoe, com sua promessa de vingança, parecia mais um eco de protagonistas passados. Os trailers iniciais, com combates brutais e visuais impressionantes, sugeriam algo novo, mas também alimentaram o medo de que a Ubisoft estivesse mudando demais a fórmula. O adiamento de novembro de 2024 para março de 2025 só jogou gasolina na fogueira – “vão consertar o que deu errado”, diziam os mais céticos, enquanto sites como That Park Place apontavam possíveis recuos na narrativa.
Mas a verdade é que o jogo final não é o ponto de ruptura que muitos projetaram. Após os ajustes, Shadows se alinha com a evolução recente da série – pense em Origins, Odyssey e Valhalla – trazendo o mesmo DNA, só que com um novo pano de fundo.
Naoe e Yasuke: Velhos Arquétipos, Nova Cara
Naoe é a representante do stealth que os fãs conhecem bem. Sua história – família destruída por aliados de Oda Nobunaga, seguida por uma busca implacável por justiça – é um clássico da franquia. Ela desliza por telhados, usa sombras a seu favor e elimina inimigos com precisão cirúrgica, lembrando os melhores momentos de Bayek ou até mesmo Ezio. Não é exatamente original, mas funciona, especialmente com o Japão feudal como palco, cheio de vilarejos e castelos que tornam cada infiltração um deleite visual. Achei interessante a infiltração em castelos e casas, pois suas construções diferem do padrão europeu tradicional. Isso obriga o jogador a ser mais estratégico e preciso ao invadir locais durante as missões.
Yasuke, por sua vez, é a força bruta da dupla. Seu estilo de combate, com armas pesadas como o kanabo, é direto e violento – portas quebram, inimigos voam. Ele começa como um escravo trazido por jesuítas e vira samurai, carregando um passado complexo que o coloca em situações moralmente cinzentas. Não é o assassino acrobático típico, mas sua abordagem lembra os guerreiros de Valhalla. A Ubisoft deu a ele uma identidade própria, mas não tão distante do que já vimos antes. Quando mencionamos dele ser um tanque, é a mais pura verdade. Fica até sem graça utilizá-lo por sua força desproporcional aos demais adversários.
Combate e Câmera: Conforto em Vez de Revolução
A gigante francesa vendeu mudanças no combate e na câmera como grandes novidades, mas o resultado é mais evolução do que revolução. Naoe apela aos amantes do stealth clássico, enquanto Yasuke é feito para quem gosta da pegada RPG dos últimos jogos. A câmera, mais dinâmica, acompanha os dois estilos sem grandes surpresas, em alguns momentos pode atrapalhar devido não ser tão ampla. O jogador acaba não conseguindo ver quem está atacando dependendo do momento da luta. Quem jogou Odyssey ou Valhalla não vai se sentir perdido – é terreno conhecido, só que com um leve polimento. A promessa de inovação ficou mais no discurso do que na prática.
A Mentira Que Era Só Hype
No fim, a grande “mentira” da Ubisoft foi deixar os fãs acreditarem que Assassin’s Creed Shadows seria um salto radical. O hype inicial, aliado às polêmicas e ao adiamento, criou um fantasma: o de um jogo que abandonaria suas raízes por algo completamente diferente. Mas o produto final prova o contrário. É Assassin’s Creed como o conhecemos nos últimos anos – um RPG de ação com exploração histórica, combates variados e uma narrativa que, embora não reinvente, entrega o esperado.
O Japão feudal é o verdadeiro brilho aqui, com suas paisagens, guerras e uma atmosfera que dá vida à jornada dos protagonistas. Ela não mentiu sobre trazer algo especial, mas exagerou na ideia de que seria um divisor de águas. Para os que temiam uma transformação irreconhecível, o alívio é claro: Shadows é mais um capítulo sólido, não um reboot ousado. E talvez isso seja o suficiente por afastar inúmeros jogadores no lançamento.
Como Shadows foi lançado em day one no Steam, já é o terceiro maior lançamento da franquia na plataforma com picos de 41.412 jogadores segundo o SteamDB.
Um Detalhe que Pode Mudar Tudo
Portanto, devo finalizar com um ponto que realmente faz a diferença. Com tudo citado anteriormente, os romances não se iniciam logo nas primeiras horas de jogo. O fato de essa inclusão ser discreta pode desagradar parte dos jogadores e agradar outra. Além disso, as primeiras reviews, por não mencionarem esse aspecto, levaram alguns usuários que inicialmente não comprariam o jogo a reconsiderar, seja adquirindo-o ou adicionando-o à lista de desejos.
A Steam, que é a principal plataforma para metade ou mais dos fãs da franquia, permite reembolsos apenas até duas horas de jogatina. Quando um jogo exige várias — ou até dezenas — de horas para revelar elementos importantes, essa política de reembolso deixa de ser uma opção viável. Se essa decisão foi uma estratégia dos desenvolvedores ou do próprio diretor do jogo, isso pode marcar Assassin’s Creed Shadows para sempre na indústria. Espero que a escolha de introduzir o romance mais adiante na campanha não tenha sido proposital apenas para contornar esse fator.
Na minha opinião, e conforme mencionei na minha review, onde dei uma nota 8/10, o jogo funciona bem e me agradou. Como já disse, ele não é revolucionário, mas consegue instigar o jogador a continuar explorando, despertando o interesse em conhecer mais sobre o Japão feudal e sua cultura.
Por fim, Assassin’s Creed Shadows já está disponível para PlayStation 5 (PS5), Xbox Series X|S (XS) e PC via Steam, Epic Games Store, Ubisoft Connect e UBI+ Premium.