Certa noite, estava querendo assistir a um filme para deixar passando e dormir. Entrei na Netflix e cliquei no sugerido: “Sob as águas do Sena”. Gosto bastante de filmes sobre tubarões e confesso que já assisti a todas as temporadas da “Shark Week” e os documentários nos canais que exibem produções relacionadas à vida animal. Na breve sinopse do filme, só dizia que um tubarão havia adentrado nas águas do Sena, o rio mais famoso da França, apesar de o Rio Loire ser o mais importante. Contudo, como o Sena corta a capital, Paris, acaba ganhando um apelo maior pela população da cidade e seus turistas.
Não imaginava que teríamos um novo “Sharknado” financiado pela Netflix.
Pensei: preciso assistir para tirar minhas conclusões se esse filme, que trará “supostas” causas ambientais, condiz com a realidade. Compreendo que, com licença poética e sendo um longa-metragem sem compromisso, tudo poderia acontecer. Para minha surpresa, não imaginava que teríamos um novo “Sharknado” financiado pela Netflix. Sim, senhores, o filme segue uma linha similar. Não estou questionando ou criticando “Sharknado”, que sabemos ser um filme ‘trash’. Mas, como um orçamento maior conseguiu ter uma trama confusa e bizarra? Devo relatar que meu sono se foi, já que não conseguia dormir e fiquei observando cada segundo do desenrolar da trama.
O elenco francês é encabeçado por Bérénice Bejo, conhecida pelo aclamado “O Artista” de 2011, que venceu diversos prêmios, inclusive o Oscar de Melhor Filme em 2012. Ela interpreta Sophia, uma cientista ambientalista que monitorava tubarões da espécie Mako. Até esse momento, tudo está normal, até que um desastre acontece e ela fica traumatizada, deixando de lado seu lado aventureiro ao lado dessas feras do mar. O tempo passa e ela é contatada por Mika (Léa Léviant) que se considera uma espécie de ‘Sea Shepherd’, uma organização sem fins lucrativos que ficou conhecida por combater baleeiros japoneses em mar aberto.
Sua alegação para convencer Sophia era que um dos Makos que ela monitorava no passado está no território francês, sob as águas do Sena.
Evidentemente, Sophia fica intrigada para saber se é verdade e acaba descobrindo da pior forma! A premissa é interessante; o único problema é a execução do desenrolar a seguir. A ideia de evolução de uma criatura devido à poluição dos mares chega a ser mais forçada do que Godzilla ter evoluído após sofrer radiação por uma explosão nuclear. Ou tubarões voadores, como já tivemos em “Sharknado”. Isso seria até mais natural. Óbvio que há espécies de tubarão que nascem em água doce, como o próprio tubarão-touro (Bull Shark), que nascem nessas águas e depois buscam as águas salgadas do mar. Também há outros, como o tubarão-cabeça-chata e o tubarão-dente-de-lança.
Ele se inspirou em “Jurassic Park – Parque dos Dinossauros”.
Entre diversos modelos, isso não é uma regra e o Mako seria uma exceção ainda menor, devido à sua natureza predatória. Pois bem, continuei assistindo até onde essa ideia utópica chegaria. Pior que o diretor Xavier Gens (Hitman – 2007) conseguiu ir longe. Ele se inspirou no filme “Jurassic Park – Parque dos Dinossauros“, de 1993, do Steven Spielberg, para desenvolver sua teoria. Descobrimos que o Mako evoluído poderia se reproduzir sem a necessidade de um macho. Agora, o local estaria infestado de outros tubarões, para o delírio dos parisienses. A evolução foi descoberta após uma autópsia minuciosa.
A preocupação é devido às Olimpíadas de Paris 2024, onde uma maratona ocorrerá justamente no Sena, levando dezenas de competidores a entrar naquele local e a uma possível “carnificina”.
“Sob as águas do Sena” abusou tanto do exagero que até as cenas mais simples tinham excesso de carga dramática. Estava claro que a ambição desta produção não estava satisfeita apenas com um filme de tubarões assassinos que se revoltam e procuram um novo habitat. Eles queriam mais. Assim, as catacumbas de Paris, parte de um enorme mundo subterrâneo escondido sob as ruas movimentadas da cidade, também entram em ação. Conhecidas como “o maior túmulo do mundo”, esses túneis guardam as memórias de milhões de parisienses de várias épocas. Além disso, há as bombas remanescentes das guerras mundiais, que a cidade foi palco no passado.
Neste momento, compreendo que a produção tentou exibir o problema que guerras podem ser prejudiciais para o mundo. Isso adiciono como ponto positivo ao filme, e sobre como as autoridades tentam negligenciar os alertas. A Prefeita (Anne Marivin) da cidade pede para abafar o caso dos ataques de tubarão em prol do possível investimento para a despoluição do Rio Sena. A ganância vem primeiro, e o povo depois. Se isso é similar ao que vivemos no mundo atual, não é novidade! Todos esses alertas, como mencionei, são um ponto para a produção. Entretanto, esses elogios cessam ao que virá a seguir.
Mencionei sobre a ambição da produção de ir além de um filme sobre ataque de tubarões. A cientista descobriu que os Makos agora são uma nova espécie de tubarão. Se eles evoluíram, estão se adaptando, e lembram quando citei que agora não era mais necessário um macho para reprodução? É o que ocorre. Ela consegue, em pouco tempo, ter centenas de filhotes que estão prontos para devorar qualquer coisa que se mova sob as águas do Sena. E o que é melhor para alimentar filhotes? Nadadores na maratona das Olimpíadas das provas aquáticas!
Pensei estar assistindo ao filme “2012” com John Cusack.
Essa foi a gota d’água. Inexplicavelmente, a criatura ficou super inteligente, muito mais que as experiências feitas nos tubarões do filme “Do Fundo do Mar“, com Samuel L. Jackson, de 1999. Lilith, o nome de batismo dado por Sophia, parecia estar escondendo o jogo, já que começou a exibir ser extremamente inteligente. Foi barco voando, pontes caindo, centenas de pessoas caindo na água; só faltou dizer “tiro”, “porrada” e “bomba”. Era explosão para todos os lados, desespero, e pensei estar assistindo ao filme “2012” com John Cusack.
O roteiro é um omelete que bateu tudo e jogou, sem se preocupar com os exageros. Observamos uma cidade completamente submersa. Essa minha observação é evitando ao máximo spoilers, mesmo que o longa tenha sido lançado há algum tempo. Só que as piores adaptações das obras do mestre dos thrillers Stephen King são uma obra de arte em relação a “Sob as águas do Sena”. Fazendo uma comparação pelo Rotten Tomatoes, o primeiro “Sharknado” recebeu, pela crítica especializada da época, uma nota geral de 75/100. Enquanto isso, o público geral deu uma nota de 34%. Agora, em “Sob as águas do Sena”, a crítica especializada o colocou com 62%, e o público, 32%. Todas são pontuações gerais para 100.
Chegamos à conclusão de que, mesmo com o orçamento deste filme sendo maior que o de “Sharknado”, “Sob as águas do Sena” não conseguiu ser um filme melhor. Na verdade, a intenção do diretor Xavier Gens era criar uma nova franquia que fosse comparada ao clássico trash dos predadores dos mares.
Vale a pena assistir a “Sob as águas do Sena”?
Se você é daqueles que adoram filmes sem compromisso, onde o exagero é algo que não pode faltar, fique à vontade para assistir e tirar suas conclusões de um thriller que chega a ser cômico. O longa “Sob as águas do Sena” está disponível na plataforma de streaming da Netflix desde 5 de junho de 2024. Os assinantes podem conferir na íntegra. Se possui fobia de água, esteja pronto para ter medo!
Por fim, esse foi um filme que, ao invés de me fazer dormir, me despertou como um passatempo. Todas as vezes que quiser perder o sono, irei assistir para ficar ligado. Além disso, nos mostrou que nem sempre as pessoas que desejam fazer coisas boas são exatamente como dizem. Vocês perceberão ao assistir a “Sob as águas do Sena”.
Quero saber de vocês, meus gamernérfilos, já assistiram ou vão assistir? Ou têm medo do que vão encontrar? Deixem seus comentários.