Mesmo com Nintendo e SEGA dominando o cenário dos videogames no início dos anos 1990, a metade daquela década trouxe uma revolução. A Sony ingressou definitivamente no mercado global de games com o lançamento do seu primeiro console, o Playstation 1 (PS1).
O Brasil passava por uma transição política, e o real começava a ganhar força. Anos depois, seria consolidado como nossa moeda atual. A Seleção Brasileira vinha de uma conquista do tetracampeonato, que revelou talvez um dos melhores elencos das últimas décadas, apesar de, em 2002, termos sido pentacampeões. Além disso, os brasileiros estavam de luto pela morte do maior piloto de Fôrmula 1 da era moderna, Ayrton Senna da Silva.
O mundo estava se transformando, e ser um jogador profissional de eSports ainda estava longe de ser uma realidade, limitando-se, para muitos, a um simples hobby de mostrar seu potencial. Torneios como o Red Annihilation, para o jogo Quake, eram curiosidades para os meninos que liam revistas para entender esse universo que se expandia lentamente. Ter eventos da indústria no Brasil nem era um sonho, era praticamente impensável. A própria Brasil Game Show, que inicialmente começou como um Game Churrasco elaborado por Marcelo Tavares, ocorreria apenas em 2002.
Ou seja, aqueles que jogavam videogames eram, acima de tudo, apaixonados por esse universo. Esse contexto é importante para que vocês compreendam a relevância desse console e tudo o que ele proporcionou ao nosso mundo.
Adentramos no PS1
O console, inicialmente chamado apenas de PS, ficou conhecido como PSOne com o passar dos anos e o lançamento de novos modelos. Enquanto os brasileiros ainda exploravam o Master System, o Nintendinho, e estavam começando a adotar consoles como o Super Nintendo, Sega Genesis (Mega Drive), a geração dos 32 bits chegava timidamente ao país com dispositivos como o Sega Saturn, o Jaguar da Atari e o 3DO. A chegada do Playstation marcou um divisor de águas.
O Playstation, lançado em 1994, trouxe uma revolução na forma como jogamos, criando um marco histórico no Brasil e no mundo.
Pois, a desenvolvedora japonesa conseguiu fazer algo que nenhum de sua geração havia alcançado, além de explorar ao máximo o desempenho do console. Enquanto isso, revistas especializadas da época, como Ação Games e Super Game Power (anteriormente Game Power), estavam se preparando para essa migração, tornando-se grandes pioneiras na difusão de informações em tempos que antecederam a internet. Em uma época em que poucos brasileiros tinham acesso a outros idiomas, no máximo nos ensinos fundamental I ou em colégios particulares, algo distante para a maioria da população, essas revistas eram verdadeiros guias de referência do que poderia ser um verdadeiro hype nos próximos meses pelo Brasil e pelo mundo.
Leia também:
- Essa crise terá solução: Os gamers são os responsáveis pelo fracasso da indústria dos games?
- O início do fim: Fechamento do Estúdio Firewalk Studios e o Impacto do Fracasso de Concord
- Uma coisa justifica outra: Se você critica The Veilguard, talvez nunca tenha jogado Mass Effect: Andromeda
Com a chegada do console no Japão, o Ocidente estava distante para recebê-lo. Em 3 de dezembro de 1994, o mundo conheceu essa revelação, que ficou limitada à Ásia pelos próximos nove meses — literalmente uma gestação. O impacto que esse console causaria no ocidente marcaria para sempre uma geração! Diferente do Saturn, muitos usuários começaram a procurar a “estação de jogos” da Sony. Meu primeiro contato com esse aparelho ocorreu em uma locadora, entre 1995 e 1996, com o jogo Goal Storm, o precursor de International Super Star Soccer, que evoluiu para Winning Eleven (Pro Evolution Soccer) e hoje conhecemos como eFootball.
A Era das Locadoras e os Jogos Diversificados
Pela minha visão de jovem que cresceu na cidade do Rio de Janeiro, frequentando diversos locais e convivendo com diferentes classes sociais, é fácil hoje lembrar de quem jogou títulos de JRPG da SquareSoft (atual Square Enix). Mas, na verdade, garimpar jogos diversificados não era tão comum, especialmente de forma lícita. Apesar das locadoras que ficaram populares por incluir consoles para locação, os donos desses estabelecimentos não se arriscavam com títulos menos populares, que poderiam gerar prejuízos. Ademais, havia fiscalização em alguns locais, e muitos jovens acabavam faltando à escola para passar o dia jogando.
Sobre as locadoras, uma que se destacou por seus anúncios em revistas foi a ProGames, com filiais em diversos locais pelo Brasil. Ela oferecia desde locação de jogos até vendas e assistência técnica para consoles.
Se hoje reclamamos de filhos com consumo excessivo em celulares, naquela época, com certeza, muitas crianças estavam em fliperamas ou locadoras. O Playstation era um facilitador, com jogos de gêneros diversificados que começavam a ser criados no console. Caso o usuário não gostasse de RPG, havia ação, luta, esportes e o início da popularidade do survival horror. Clock Tower: The First Fear (port), embora exigisse alguma compreensão de inglês, já mostrava que esse gênero atrairia uma legião de fãs.
Embora não tivesse tanta popularidade, outro jogo que começou a instigar os jogadores foi Nightmare Creatures. Porém, em 22 de março de 1996, um título revolucionaria o gênero: Resident Evil, da Capcom, trouxe uma experiência impactante que, mesmo 28 anos após seu lançamento, continua movimentando o mercado. Esse jogo abriu caminho para franquias como Dino Crisis, Silent Hill e Parasite Eve. As desenvolvedoras japonesas da época buscavam criar seus próprios jogos de terror de sucesso.
O acesso ao Multitap permitia jogar com mais três amigos, ampliando a interação em jogos que suportavam múltiplos jogadores. Os títulos de esportes faziam grande uso dessa função, sendo precursores dos jogos multijogador que, atualmente, são dominados por experiências online. No entanto, esses jogos modernos carecem da imersão única de ter um amigo real ao seu lado, limitando-se apenas a interações por vídeo ou voz. Muitos jamais saberam o que é essa sensação de sentar e passar uma tarde descontraída com nossos colegas!
A Consolidação de Sagas e Exclusivos
Franquias marcantes foram consolidadas no Playstation. Algumas nasceram no console, como Crash Bandicoot, que por muito tempo foi considerado um mascote do PS1. Posteriormente, a Sony adquiriu a Naughty Dog, mas Crash Bandicoot perdeu a exclusividade em The Wrath of Cortex. A era dos 32 bits também impulsionou franquias de esportes como FIFA, F1, Pro Evolution, NBA e Madden. Mas um marco nos exclusivos foi Gran Turismo, que trouxe realismo inédito para a época, com trilhas sonoras cativantes e desafios inéditos para época
Nos anos 90, a criatividade dos desenvolvedores estava em alta. Títulos como Castlevania: Symphony of the Night, Final Fantasy Tactics, Tomb Raider, Final Fantasy VII, Alundra, Metal Gear Solid, Syphon Filter e PaRappa the Rapper marcaram a geração. Seria impossível listar todos os jogos incríveis do PS1 sem estender ainda mais este artigo. Ainda sentimos saudades desses jogos e seu primeiro impacto!
Um Sucesso Inigualável
Na corrida dos mais vendidos, nenhum chegava perto. Ele se tornou o primeiro console doméstico a ultrapassar a marca de 100 milhões de usuários. Ignorei o Game Boy e Game Boy Color, que tiveram mais de 118 milhões, contudo, eram considerados portáteis. O próprio Nintendo 64, que deveria ser uma resposta para Sony pela Nintendo, vendeu apenas 32 milhões no total. Outros consoles superariam esses 100 milhões, mas sendo sincero, o responsável por esse avanço da aceitação do público era o Playstation. Devemos lembrar que a indústria não estava conseguindo emplacar nenhum dispositivo de 32 bits e aproveitar o hardware com jogos que, apesar de alguns carregamentos longos, entregavam diversão para seus usuários.
Como sempre, o Brasil nunca acompanhou em tempo real as novidades tecnológicas. Lojistas focados em importação traziam e vendiam nas lojas sempre com preços quase duas vezes mais elevados que os já presentes no mercado, como Super Nintendo (via Gradiente)e Mega Drive (pela TecToy). Lembro que meu primeiro Playstation possuía um valor quase três vezes maior que o dos consoles de 16 bits da época. Nos dias atuais, reclamamos dos valores dos consoles e de lançarem versões Pro e otimizações. Naquele período, qualquer família até de classe média poderia “enfartar” com o preço desses aparelhos.
Por isso, as locadoras, como mencionei no início, tiveram grande importância para propagar a popularidade do Playstation 1. Seja na locação de tempo para uso do console ou no aluguel de jogos, controles, cartões de memória e venda de CDs, o brasileiro que sonhava em ter um SNES ou Mega Drive estava pulando do Nintendinho ou Master System para um PSOne. Todos queriam ter acesso aos jogos que revistas e amigos comentavam nas escolas e clubes recreativos. Não podemos ignorar os outros dispositivos que foram propulsores. Entretanto, sem o PS1, essa revolução poderia ter atrasado uma década, e o Playstation 4, Xbox One e até o Nintendo Switch estariam chegando apenas agora.
Os 30 Anos do Playstation e a Reflexão
Os 30 anos completados nos trazem uma reflexão: a Sony Interactive Entertainment teve acertos e erros ao longo de sua trajetória. Essas três décadas são um lembrete de que a gigante do console cinza deve continuar ouvindo seus usuários. Eles começaram revolucionando, mas celebram este aniversário com reformulações em seus departamentos de jogos, enfrentando fracassos em vendas e títulos rapidamente deixados de lado. Toda empresa, como os próprios seres humanos, passa por altos e baixos.
Agora é o momento para que essa mudança ocorra, e possamos, daqui a 30 anos, contar mais sobre os feitos dessa gigante do entretenimento gamer. Por outro lado, eles laçaram uma versão clássica inspirada no PlayStation 1 original, com seu característico tom acinzentado, mas na versão de PS5.
Muitos brasileiros começaram a se apaixonar por jogos que iniciaram no console e continuam até hoje vivendo essa paixão. O Playstation também proporcionou inclusão e acesso a muitos criadores de conteúdo que não podiam ter um PC gamer potente na época. Com câmeras externas, como a famosa Tekpix, gravavam suas gameplays e as enviavam para servidores de vídeo, posteriormente para o YouTube, com a evolução da tecnologia.
Os consoles Playstation (PS2, PS3, PS4, PS5 e até os dispositivos de realidade virtual) têm história na indústria que cresceu exponencialmente, criando uma nova forma de vida para aqueles que vivem dessa produção. Os portáteis da empresa não emplacaram tão bem como os domésticos, contudo, há importância em jogos marcantes no PSVITA e PS Portable, onde agregaram valor!
Meninos que ficaram vislumbrados com o avanço tecnológico tornaram-se desenvolvedores, produtores de jogos, diretores e até atores de voz e captura de movimento. Ainda jovens, perceberam o potencial do que esse universo se tornaria. Então, nos conte, gamernéfilos, quais jogos do Playstation 1 marcaram sua infância? Caso tenha tido contato com versões mais recentes, compartilhe também.
Conclusão dessa reflexão das três décadas da Playstation
Como eu queria ter preservado imagens dessa época de ouro. Cada geração pode achar a sua melhor, e sem soberba, essa fase de reunir com os amigos era impagável. Nossa preocupação estava longe de pensar no que as pessoas iriam achar; a diversão era competir para mostrar quem dominava cada jogo e gênero que surgia. Bem como, as desenvolvedoras não possuíam a oportunidade de ajustar os jogos após o lançamento, precisavam se precaver ao máximo contra bugs, lançando os títulos com o menor número possível de problemas. Um jogo com falhas de performance podia decretar a falência do estúdio, e todo o esforço para alcançar a perfeição era, no fim, válido!
Eu, como apaixonado e entusiasta dessa indústria, desejo que não apenas a SIE, mas todas as empresas que enfrentam crises consigam se reerguer. Que voltem com jogos marcantes e memoráveis, com personagens icônicos, enredos ricos e uma proposta imersiva. Assim, continuaremos a atrair usuários iniciantes e veteranos em busca de diversão.
Parabéns, Playstation, por seus 30 anos! Que você se perpetue por muito tempo!
No ínicio do artigo. há um vídeo comemorativo publicado pela própria Sony. A seguir, você consegue observar toda evolução das aberturas do console publicado no canal ElAnalistaDeBits:
Fique ciente de que este artigo foi escrito para transmitir a atmosfera de como percebi o início do Playstation, sem aprofundar em franquias consagradas como God of War, Uncharted, Horizon Zero Dawn, Demon’s Souls, The Last of Us, entre outros. Acredito que esses jogos são derivados da evolução da indústria e não o foco nostálgico dos primeiros anos dessa empreitada da Sony no mercado de games.