Nos bastidores do Oscar 2025, em 3 de março, o diretor Walter Salles conversou com jornalistas após a vitória histórica de “Ainda Estou Aqui” como Melhor Filme Internacional —; a primeira vez que o Brasil leva esse prêmio. Com uma mistura de surpresa e orgulho, ele respondeu às perguntas de forma direta, destacando o peso da conquista para o cinema e a cultura brasileira, sem deixar de lado o tom humano e reflexivo.
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Uma Jornada de Sete Anos e o Poder da Memória
Quando um jornalista perguntou como ele se sentia ao ganhar, Salles admitiu que não esperava chegar tão longe. “Foram sete anos até aqui. No começo, a gente só sabia que essa história precisava ser contada. Nunca pensamos que ia acabar no Oscar“, disse. O filme, que retrata a vida de Eunice Paiva durante os 21 anos de ditadura militar, mistura a memória de uma família com a de um país. “Tudo girou em torno da memória. A de uma família e, ao mesmo tempo, a de um Brasil que passou por aquilo“, explicou.
Ele deu crédito a Eunice, a protagonista real, como uma força que guiou o projeto. “É como se ela ainda estivesse aqui, cuidando da gente”, afirmou. Salles também destacou Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, que estrelam o filme. “As duas mostraram que resistir na arte importa, e foi isso que fizeram. O filme é delas também”, completou.
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Por Que o Filme Pegou o Mundo?
Outro jornalista quis saber por que “Ainda Estou Aqui” conquistou plateias que desconheciam a ditadura brasileira do passado. Salles foi direto: “O filme fala de perda — como a gente lida com ela, como segue em frente e enfrenta injustiça. Eunice podia ter desistido, mas escolheu viver”. Ele acha que essa ideia de lutar e encontrar esperança toca qualquer um, em qualquer lugar.
Salles também ligou a história ao presente. “A democracia está fraca no mundo todo. O que rolou no Brasil lá atrás parece perto do que vivemos hoje”, disse, mencionando até a surpresa de ver fragilidade democrática nos EUA. Para ele, Eunice Paiva ensina uma resistência diferente, “baseada em afeto, em sorrir quando tentam te derrubar”. Isso, segundo o diretor, pode ser o que abriu as portas do filme para o público global.
Não é Só o Filme, é o Brasil
Para Salles, o Oscar vai além de “Ainda Estou Aqui”. “Não é só o filme sendo visto. É o jeito que a gente faz cinema no Brasil, nossa literatura, nossa música”, afirmou. Ele citou o livro de Marcelo Paiva, base do roteiro, e a trilha com Caetano Veloso, Gal Costa e Erasmo Carlos, que ajudaram a dar vida à história. “É a cultura brasileira inteira ganhando esse reconhecimento“, disse. O diretor acredita que isso pode abrir espaço para mais filmes independentes do país lá fora.
Filmando o Passado no Mundo Digital
Sobre trabalhar na era do streaming e das redes sociais, Salles riu e disse que é “muito analógico”. Para recriar os anos 1970, ele usou filme 35 mm e Super 8, fugindo do digital. “Era o jeito de levar o público praquela época de verdade, sem nada artificial“, contou. Ele falou da importância de manter a memória viva, num tempo em que “tentam apagá-la por aí“. “Jornalismo, literatura, música e cinema ajudam a não deixar isso acontecer”, defendeu.
Um Recado pro Brasil
Atendendo a um pedido, Salles falou em português pros brasileiros, que pararam o Carnaval pra ver o Oscar: “Esse prêmio é nosso. É pra nossa cultura, pra nossa força. Vocês, que viram o filme — cinco milhões de vocês —, fizeram ele acontecer também. Obrigado“. Foi um jeito simples de reconhecer quem abraçou a história no Brasil.
Um Ganhou que Fica na História
“Ainda Estou Aqui” vencer o Oscar 2025 como Melhor Filme Internacional é algo que o Brasil nunca tinha conseguido antes. Mais que um prêmio, é um sinal de que nossas histórias têm força pra chegar longe. Como Salles mostrou, é sobre memória, resistência e um pedaço do Brasil que agora o mundo conhece melhor. Novamente cito que independente do viés que o longa-metragem possua, é uma vitória de décadas do cinema nacional.
Fonte: Oscars.org