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CRÍTICA | Os Vingadores: Guerra Infinita

CRÍTICA | Os Vingadores: Guerra Infinita / Infinity War

Marvel coloca vilão como protagonista e lança filme devastador – Leia a nossa crítica (com spoilers)!

“A joia da mente é a quarta das joias do infinito a aparecer nos últimos anos. Não é coincidência. Alguém criou um jogo complexo e nos transformou em peões. E quando todas essas peças estiverem posicionadas…”
“Xeque-mate”.


Esse foi um dos últimos diálogos do segundo filme dos Vingadores: Os Vingadores: Era de Ultron. Não é surpresa para ninguém o fato de que o novo filme, Os Vingadores: Guerra Infinita girou de fato em torno disso. A surpresa, no entanto, fica no enredo da história e em como essa trama foi apresentada e desenvolvida a nós, espectadores. Os Vingadores: Guerra Infinita surge como algo muito mais grandioso, emocionante e diferente dos primeiros filmes. Apelando para o lado sentimental, sem ser piegas, a Marvel conseguiu construir um filme Blockbuster que será, no mínimo, memorável.

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Foto: Marvel Studios 2018

O filme nos apresenta Thanos (Josh Brolin), o vilão que pretende destruir metade do universo para trazer ordem. Para isso, ele está atrás das 6 pedras do infinito – com todo esse poder ele se tornará indestrutível para conseguir, em um estalar dedos, dizimar a população. É aí que nossos heróis aparecem: eles se juntam para tentar deter Thanos, seja lutando diretamente com ele ou tentando tirar as pedras de seu alcance. Quem esperou por ação, humor e momentos heroicos não saiu decepcionado. É de se arrepiar quando Tony Stark (Robert Downey Jr.) aparece pela primeira vez com seu traje ou quando Thor (Chris Hemsworth) volta triunfal para a batalha de Wakanda; O Groot nos faz chorar novamente com mais um de seus atos heroicos; As nossas guerreiras Viúva Negra (Scarlett Johansson), Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e Okoye (Danai Gurira) lutando juntas e dando conta do recado é libertador; A dinâmica entre o Thor e os personagens de Guardiões da Galáxia é simplesmente hilária; Grande parte das cenas de ação são de tirar o fôlego e a fotografia do filme, especialmente das cenas que se passam fora da Terra, é deslumbrante.

 

Sim. Rolou dinâmica entre Thor e Senhor das Estrelas (Chris Pratt), assim como rolou entre Tony Stark e Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) e entre vários outros heróis. Como todos já sabem, o filme está em uma escala muito maior do que os dois primeiros: Os Vingadores: Guerra Infinita é uma espécie de crossover com praticamente todos os 18 filmes anteriores da Marvel. Nele temos Pantera Negra, Homem de Ferro, Homem-Aranha, Capitão América, Hulk, Thor, Viúva Negra, Doutor Estranho e outros. Juntar aspectos de tantos filmes anteriores em um só, sem dúvidas, foi uma escolha arriscada. Há quem pense que isso poderia resultar em uma bagunça – mas não para a Marvel.

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O filme junta todos os heróis em uma linha de raciocínio muito bem amarrada, uma linha que gira em torno do vilão, Thanos. Esse foi o ponto principal da trama e a maior mudança em relação aos dois primeiros filmes. Em Os Vingadores: Guerra Infinita, o vilão é colocado como centro da narrativa. O filme já começa do ponto de vista dele. Sem grandes suspenses sobre quem é o vilão e o que ele quer, todas essas informações já são apresentadas na primeira cena, fazendo com que o espectador já se familiarize com ele e perceba que, muito mais do que esperar pelo filme inteiro para saber como será a luta principal com o vilão, ele já está aqui. A luta já está acontecendo.

Isto dá aos roteiristas Stephen McFeely e Christopher Markus o poder de humanizar o vilão, principalmente através de sua relação com sua filha Gamora (Zöe Saldaña). Thanos é um vilão que sente. Que ama. Que chora a perda de alguém querido. O trabalho de Josh Brolin interpretando Thanos é sensacional e faz com que o espectador crie simpatia com ele. Levando em consideração que sua estratégia é o genocídio, essa humanização do “monstro” foi uma escolha curiosa, pois retrata casos e comportamentos extremamente reais para nós. A cena em que ele encontra Gamora criança e conversa com ela, prendendo sua atenção enquanto toda a população a sua volta simplesmente é executada, em sua essência lembra a cena do filme O Menino de Pijama Listrado. Nela, as duas crianças são friamente executadas em um campo de concentração junto com todos os outros judeus. Algo muito cru: uma realidade cruel que tenta se esconder atrás da inocência de uma criança – mas que serve apenas para agravar e enfatizar a crueldade. A humanização de Thanos o aproxima do espectador ao mesmo tempo que o torna mais real, portanto, mais intimidador.

Com o vilão em foco, nossos heróis ficam em segundo plano – não se tem mais conflitos internos entre, por exemplo, Capitão América e Homem de Ferro, o que tira um pouco do protagonismo e da dinâmica dos grandes heróis. Todos eles estão em harmonia com o propósito de salvar o universo; já não se tem opiniões divergentes ou a necessidade de discutir sobre o que é certo e errado, pois todos caminham juntos para destruírem Thanos, que vem com muito mais lugar de fala ao longo da narrativa do que os heróis.

Foto: Marvel Studios

Isso faz com que a “grande luta” na verdade se passe durante todo o filme.  Em diversas cenas vemos os nossos grandes heróis tentando lutar com Thanos e fracassando. As cenas de ação, por mais extravagantes e bem executadas que sejam, não se fazem tão presentes no filme. O que o filme faz é criar e expandir a tensão que nós sentimos quando nos damos conta de que, dessa vez, as coisas podem não dar certo. E, mesmo prevendo as tragédias, quando elas de fato chegam, o filme consegue ser surpreendente, o que é um ponto admirável. O choque com certeza é brutal: Nós esperamos uma grande luta no final, mas o que ganhamos é um sentimento devastador. Mesmo que tenha sido apenas um susto (alerta de spoiler!), a “morte” de Tony Stark provoca um sentimento desesperador em qualquer um, algo que não seria possível sem a atuação impecável do Robert Downey Jr. O Homem-Aranha nos braços do Homem de Ferro falando que não quer morrer é algo terrivelmente devastador e não para por aí.

O filme inteiro carrega um ar pesado e provoca um sentimento de impotência. Para quem esperava a maior luta de todos os tempos recebeu uma realidade bem diferente: um dos trabalhos mais devastadores da Marvel. Por conta disso, para uns, o filme também se torna decepcionante: Nós estamos acostumados a ver o vilão ter dificuldade em conseguir o que ele quer. Nós estamos sempre esperando uma luta gigantesca que irá reverter a situação. Nossos heróis sempre acabam vencendo. Talvez esse seja o X da questão. Talvez o “decepcionante” seja apenas comodidade – algo que a Marvel tentou evitar. Quem é fã das HQs sabe que, inclusive, era para o filme ter sido ainda mais devastador do que foi.

O passo que a Marvel deu de seguir mais fielmente as HQs foi corajoso (-spoiler!- não o bastante para matar todos que supostamente deveriam morrer, de acordo com as histórias) e uma coisa é certa:  o final pede por um “quero mais” e deixar o público incomodado ou indignado é um dos melhores jeitos de prender sua atenção e atraí-lo para o próximo filme. Pode ser decepcionante para alguns, mas não deixa de ser inteligente.

 

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